Dando sequência ao assunto
que discutimos semana passada (AQUI), hoje, continuaremos a propor algumas
idéias para nos fazer repensar aquilo que se tem convencionado como práticas
natalinas. O nascimento de Cristo é uma belíssima data, pois é nesse dia que
lembramos que o Verbo Eterno se fez carne, esvaziando-se de si mesmo e habitou
entre nós. Deus se fez homem, colocando seu coração na nossa miséria, com o fim
de nos tirar dela.
Tendo em vista tamanho ato
de amor, graça e misericórdia, não podemos desprezar a importância do natal, ou
mesmo enxertá-lo de significados fúteis, mentirosos e vazios. Assim,
continuemos a aprender um pouco mais sobre essa célebre data.
Presépio – Como dissemos, o
natal nos mostra a ação do Deus Eterno assumindo a forma de servo. Nesse
sentido, o presépio talvez seja um dos símbolos natalinos que melhor representa
isso, mas ao mesmo tempo, seja a representação natalina usada da forma mais
enganada. Pois ao invés de representar o que a Bíblia diz sobre o nascimento de
Jesus, representam aquilo que as crendices populares falam. De acordo com Lucas
2.1-7, o Rei dos reis nasceu numa estrebaria. Um local simples, rude e
impróprio para o nascimento de qualquer criança. Mesmo assim, José, Maria e o
recém nascido Jesus tiveram que se abrigar naquele lugar por causa da
superlotação da cidade naqueles dias em que o Império Romano promovia o
recenseamento. A estrebaria era um local usado para abrigo e tratamento de
animais, que poderia ser o porão de uma casa, ou um anexo à mesma, pois
naqueles dias era comum essa prática. Mas o que normalmente é usado para
representar a estrebaria é uma gruta ou uma choça num ermo aos arredores de
Belém. Podemos deduzir, com mais possibilidade de acerto, ser a estrebaria num porão,
do que numa gruta por causa do anjo que não forneceu aos pastores muitos dados
acerca do local do nascimento, mas disse que era "na cidade de Davi", que é Belém, logo, deveria ser um local mais conhecido e não
tão isolado. Esse lugar impróprio para moradia foi adaptado para receber aquela
família e para acomodar o menino, fizeram da manjedoura um berço. A qual era um
cocho de pedras fixo e firme. Uma obra de alvenaria feita no lugar. Tão firme
que poderia ser usada para amarrar animais (Lc. 13.15). Nela se dava de comer e
beber aos animais. Quando dizemos adaptada, quer dizer que o local foi minimamente preparado, não pensem que havia animais por
todo lado, inclusive um comendo forragem no cocho transformado em berço.
Certamente José tirou os animais do lugar e o que envolvia Jesus na manjedoura
eram faixas e não capim (Lc. 2.12).
Os Magos – Outro
erro comum associado ao presépio é visita de “uns magos do oriente” que
aparecem em Mateus 2.1-12. Essa comitiva viera de terras distantes para ver o
“rei dos judeus”. Esses homens do oriente eram pessoas de destaque, pois para
serem qualificados como “magos”, poderiam ser astrônomos, astrólogos,
matemáticos, químicos, ou religiosos de altas patentes acadêmicas, assim
poderiam ser conselheiros reais semelhantes a Daniel. Porém a Bíblia não nos
informa quantos eram, o que faziam e nem os seus nomes. O que temos a respeito
desses homens são muitas lendas e crendices populares. Quanto ao número, várias
foram as estimativas, contudo o mais difundido são três: Aliatar, Anason e
Quissade (nomes dados no século XIII), ou Gaspar, Belchior e Baltazar (nomes
dados no século XII). O que fortalece a teoria de que eram três magos são os três
diferentes presentes (ouro, incenso e mirra). Mas tudo isso não passa de
especulação e lenda, pois a Bíblia não nos dá esses detalhes. Há ainda aqueles que atribuem significados aos presentes dos magos. Alguns atribuem significados aos
presentes: Ouro: Aponta para realeza de Cristo; Incenso: Aponta para o ministério Sacerdotal de Cristo; Mirra: Aponta para sua morte. Mas
o papel mais importante dos presentes dados pelos magos foi financiar a viagem
de Jesus e sua família ao Egito. Visto que era uma família pobre.
Ainda
tratando sobre os magos, um equívoco comumente cometido é dizer que os magos
visitaram Jesus e sua família na estrebaria na noite do seu nascimento. Vemos
isso em praticamente todos os presépios, teatros e filmes natalinos. Mas a
narrativa Bíblica aponta para uma direção diferente, pois em Mateus 2.11 diz que
os magos entraram na “CASA” e viram o “MENINO”. Ou seja, os magos visitam o
menino Jesus (no grego “paidion” =
menino pequeno) e sua família numa casa (no grego “oikia” = moradia). Diferente dos humildes pastores, aos quais o Anjo apareceu na noite do nascimento. Estes acharam uma criança
(no grego “brephos” = recém nascido)
envolta em faixas e deitada numa manjedoura. Além da diferenciação que podemos
obter do grego, podemos deduzir que Jesus não era mais um recém nascido pelo
fato de Herodes ordenar a morte das crianças de dois anos para baixo, conforme
Mateus 2.16. Portanto, os pastores visitaram Jesus na manjedoura na noite do
seu nascimento. Já os magos, encontraram Jesus numa casa quase dois anos depois do
seu nascimento. Mas francamente, montar um presépio com magos ricos, bem vestidos e cheios de presentes, ao invés de pastores pobres e maltrapilhos é muito mais chique.
Tendo em vista tantos elementos
lendários que cercam o nascimento de Jesus, para se evitar erros, convém que
aceitemos a narrativa Bíblica do nascimento de Jesus dentro dos limites da sua
realidade, sem nenhum acréscimo ou suposição fantasiosa que ultrapasse a
verdade narrada nas Escrituras. Não celebre o Natal conforme as crendices
populares, mas de acordo com a Palavra de Deus.
Obras
consultadas e Citadas:
FONSECA,
Salvador Moisés da. O Natal e sua
celebração: história e simbologia. Patrocínio: CEIBEL. 2001. 3ª Ed. 20p.
TASKER,
R.V.G. Introdução e Comentário do Evangelho
de Mateus. Tradução de Odayr Olivetti. São Paulo: Vida Nova. 2007. 229p.