Por Vanderson Scherre Gomes
Quando somos estimulados por apenas um de nossos
sentidos, nossa capacidade de retenção de informações é bastante limitada. Mas
quando usamos simultaneamente vários deles para um mesmo fim, a absorção de
informações cresce consideravelmente.
Partindo desse princípio, podemos considerar as
festividades e comemorações praticadas pelo povo de Deus como um método
extremamente eficaz de memorização e recordação daquilo que Deus fez e ainda
faria no meio do seu povo. COLEMAN (1991, p.263) confirma esta idéia dizendo
que as festas do povo de Deus eram de cunho educativo. Ou seja, “O propósito
divino nas festas de Israel era o de trazer o elemento temporal para o círculo
de adoração. Eram os ‘encontros’ do Senhor com Israel pra comunhão, instrução e
reflexão sobre o relacionamento e as responsabilidades da aliança.” (ELLISEN, 2010,
p.53). HALLEY (2001, p.144) concorda com essa idéia e acrescenta “As festas de
Israel tinham o propósito de manter Deus sempre nos pensamentos do povo e, num
nível prático, promover a unidade nacional.” Apenas falar sobre o que Deus fez
e ainda faria não tem a mesma eficácia do que cantar, dançar, comer, orar, ler,
chorar e representar os feitos e as promessas de Deus. Segundo Halley, as
festas exerciam uma influência tão grande sobre o povo, que umas das primeiras
medidas de Jeroboão I, após a divisão das doze tribos foi estabelecer as
próprias festas do Reino do Norte, a fim de que o povo não tornasse para
Jerusalém, que estava sob o domínio de Judá (1Reis 12.26-27).
Devemos lembrar que nosso conceito de festa é bem
diferente daquele praticado pela nação de Israel. Segundo Aurélio, a finalidade
de uma festa é para divertimento. Mas o que observamos nas festas instituídas
no Pentateuco é:
"As festas do Senhor do Antigo Testamento eram reuniões
santas de todos os varões de Israel. [...] As Festas não eram festas para
diversão. Eram ocasiões sérias e importantes, nas quais Israel honrava ao
Senhor por seu relacionamento com eles." (Mahoney, 1996, p.3)
As festas originalmente estabelecidas no Pentateuco
para que o povo de Deus as celebrasse são: Páscoa (Pessach), Pães Asmos, Primícias,
Pentecoste (Shavuote), Trombetas (Rosh Hashaná), Dia da Expiação (Yom Kippur) e
Tabernáculos (Sucote) (ELLISEN, 2010, p.52). Além dessas festas instituídas no
Pentateuco, temos outras celebrações importantes que se referem a momentos
históricos relevantes à nação de Israel e, por isso, também eram comemorados,
tais como a festa do Purim e Dedicação. Todavia, como expressões do Pacto,
apenas as sete festas estabelecidas no Pentateuco são relevantes para este
estudo.
Tomando por base o calendário hebraico apresentado
por ELLISEN (2010, p.52), veremos em ordem cronológica as festas estabelecidas
no Pentateuco com suas finalidades.
Páscoa,
Pães Asmos e Primícias
Apesar de essas festas possuírem seus significados
particulares, elas eram celebradas em conjunto durante uma semana, ocasião na
qual, todos deveriam ir para Jerusalém a fim de celebrar estas festas como
nação. No livro de Êxodo 12.14-28 vemos o Senhor instruindo a Moisés para que
este, por sua vez, instruísse o povo quanto aos rituais dessas festas,
especialmente a páscoa.
A páscoa é um memorial do livramento do Senhor,
“[...] livramento da servidão e morte no Egito e o fato de o Senhor tê-los
adquirido como seus ‘primogênitos’” (ELLISEN, 2010, p.54). No Êxodo, Deus
libertou a nação de Israel do julgo da escravidão Egípcia e também os livrou da
morte dos primogênitos e assim foi instituída a páscoa, como um memorial, mas
também uma tipificação daquilo que Cristo faria na cruz, libertando-nos da
escravidão do pecado e salvando-nos da morte eterna. Na celebração da Páscoa o
pacto é claramente expresso, pois evidencia a misericórdia de Deus libertando o
seu povo, tipificando o Messias, que já veio cumprindo todos os rituais
Pascoais, dando-nos salvação.
Enquanto “A Páscoa retrata Jesus resolvendo o
problema da penalidade do nosso
pecado. Os Pães Asmos retratam Jesus resolvendo o problema da prática do pecado.” (MAHONEY , 1996, p.7, grifo do autor). A
Festa dos Pães Asmos relembra a pressa com que os Israelitas saíram do Egito,
não dando tempo para que a massa dos pães fermentasse. Mas ela representa o
cuidado que devemos ter para com as nossas vidas a fim de mantê-la pura, limpa
de qualquer pecado, pois servimos a um Deus santo, que é infinito em
misericórdia, mas não tolera o pecado.
Se a Páscoa nos fala sobre a morte vicária de Cristo, as
Primícias apontam para o Cristo ressurreto, ou seja, as primícias daqueles que
ressuscitarão em glória. Segundo ELLISEN (2010, p.54) “As primícias
tipificavam a ressurreição de Cristo como as primícias da ressurreição dos
crentes (1Co 15.20,23)”. Mas historicamente, a Festa das Primícias refere-se a
entrega dos primeiros frutos da colheita, nas palavras de MAHONEY (1996, p.10)
o “trigo precoce constituía as primícias”, ou seja, aquele feixes que
amadureciam antes do restante da colheita eram recolhidos e apresentados com
oferta ao Senhor.
Pentecoste
De acordo com Mahoney, a Festa de Pentecoste, também chamada
de Festa da colheita, ou semanas, acontecia 50 dias após o cumprimento da
semana da Páscoa, mais exatamente, a partir do dia em eram apresentados os
primeiros frutos. Concluída a colheita, celebrava-se o Pentecostes para
“Agradecer a colheita da cevada, dedicar a próxima colheita do trigo e lembrar
o livramento da escravidão do Egito.” (ELLISEN, 2010, p.54). Para
Coleman, o fato da nação de Israel ser uma sociedade muito arraigada a
agricultura faz da festa da colheita uma grande festa, a qual também atraia
pessoas de toda parte para as imediações de Jerusalém, uma vez que o
Pentecostes era uma das três grandes festas que os Israelitas deveriam
comparecer diante do Senhor no templo.
Unger faz alguns apontamentos interessantes a respeito de
alguns elementos dessa festa:
A nova oferta de manjares prenuncia a igreja. Os dois
pães movidos (pães, não um molho de grãos soltos) ‘levedados’ antecipam aquele
aspecto pelo qual os judeus (At 2) e os gentios (At 10) são unidos numa genuína
unidade espiritual (1Co 12.13) pelo advento do Espírito no Pentecoste (At
1.1-4). (UNGER, 2006, p.100)
Essas informações muito nos esclarecem a cerca do aspecto
profético dessa festividade. Celebrar o Pentecostes era sinônimo de gratidão a
Deus pela colheita, pelo livramento da escravidão e a espera pelo dia em que
judeus e gentios seriam arrebanhados num único aprisco, cujo pastor é Cristo.
Festa
das Trombetas, Dia da Expiação e Tabernáculos
Essas três festas aconteciam no mesmo mês, aproximadamente
outubro, que é o mês de tishri. De acordo com Ellisen, esse período festivo
tinha seu início com a Festa das Trombetas, a qual era o marco inicial do ano
civil e, também, uma convocação para que o povo de Israel comparecesse diante
do Tabernáculo do Senhor, pois os dias que viriam pela frente seriam dias
santos. Ainda segundo Ellisen, nesse dia a Trombeta (shofarin) era tocada com
mais intensidade do que o normal. Diferente das comemorações até então citadas,
as Trombetas não aponta para o passado, mas sim para o futuro. Pois ela aponta
para o dia em que Deus convocará a todos para comparecerem diante dele. Ou
seja, um dia o Senhor consumará o seu pacto.
O que se segue às Trombetas é o dia da Expiação. “Essa data
tem um significado muito especial não só para os judeus como também para o
cristianismo. [...] Era uma ocasião de reflexão, de arrependimento [...]” (COLEMAN,
1991, p.270). O Dia da Expiação era o único que o sumo sacerdote poderia entrar
no Santo dos Santos. Ele se apresentaria diante do Senhor com o sangue de um
bode, com a finalidade de obter perdão do Senhor para si mesmo e para todo o
povo. Os rituais do Dia da Expiação “Tipifica Cristo, que expiou todos os
nossos pecados, pagando seu preço e levando-os sobre si.” (ELLISEN, 2010,
p.55). A Expiação deixa claro para o homem a sua inaptidão para cumprir a lei,
ou seja, os “termos do pacto”. Por isso faz se necessário um redentor, alguém
que nos liberte da condenação que recairia sobre nós.
“Após experimentar profundos sentimentos de remorso e
tristeza, os participantes se entregavam às alegrias da Festa dos Tabernáculos.”
(COLEMAN, 1991, p.271). De acordo com este mesmo autor, a comemoração do
Dia de Ação de Graças se assemelha A Festa dos Tabernáculos. Durante os dias
dessa festividade, o povo de Deus deixava o conforto de suas casas para
habitarem em barracas feitas de folhas, lembrando se dos dias que o Senhor
conduziu seu povo pelo deserto. O Senhor manteve-se fiel ao pacto, mesmo quando
a nação de Israel mostrava-se como um povo de dura cerviz (Esse termo aparece
sete vezes no Pentateuco).
Conclusão
sobre as Festas como expressões do Pacto
Não foi sem propósito que o Senhor estabeleceu suas Festas.
Ele tinha um propósito bem claro ao estabelecê-las, e este era fixar na mente e
no coração do seu povo os seus grandiosos feitos e também apontar para o que
estava por vir. Mostrar sua misericórdia e graça evidenciando o Pacto do Senhor
com seu povo, sua manutenção e consumação.
BIBLIOGRAFIA
COLEMAN, William L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos.
Tradução de Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora Betânia. 1991. 360p.
ELLISEN, Stanley. Conheça Melhor o Antigo Testamento: Um
guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia.
Tradução de Emma Lima. 2 ed. São Paulo: Editora Vida. 2010. 423p.
FERREIRA, Aurélio B. de
Holanda. Novo Dicionário Eletrônico
Aurélio Século XXI. 3 ed. Editora Positivo. Versão Eletrônica 5.0.
HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão
Internacional. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 2001. 895p.
MAHONEY, Ralph. As Sete
Festas do Senhor. Atos, Venda Nova,
n.6, vol.11, 23p. Nov./Dez. 1996.
UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. Tradução de
Eduardo P. e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 2006. 743p.