INTRODUÇÃO
A Fé Cristã Evangélica nunca foi e nunca será um convite
para caminharmos nas trevas da ignorância. Antes, somos desafiados pela própria
Escritura a estar “[...] sempre preparados para responder a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós,” (1Pedro 3:15 RA). Assim, tendo em
vista o crescimento de movimentos ateístas e liberais teológicos, esta pesquisa
serve como instrumento de solidificação e aparelhamento da Fé, buscando
identificar nos achados arqueológicos e registros históricos elementos que
corroborem a historicidade da pessoa e mistério Messiânico de Jesus Cristo, o
Filho de Deus.
O escritor Josh Mcdowell tem prestado um importante serviço
à Igreja nesse sentido, buscando através de acuradas pesquisas, comprovar aos
céticos a validade e veracidade dos relatos das Escrituras. Em sua obra “Mais
que um Carpinteiro”, Josh fala sobre precisão dos relatos bíblicos em relação a
Jesus e no terceiro capítulo de seu trabalho ele nos apresenta o método que
devemos empregar na verificação da narrativa dos Evangelhos em contraponto ao
convencional método científico:
Precisamos entender a diferença
entre prova científica e o que eu denomino prova histórica judicial. Deixe-me explicar.
A prova científica baseia-se na demonstração de que algo é fato pela repetição
do experimento em presença do indivíduo que o questiona. Porém, se o método
científico fosse o único meio de se provar qualquer coisa, você não poderia
provar, por exemplo, quem foi à aula ou ao trabalho hoje pela manhã, ou que
almoçou. É totalmente impossível repetir tais eventos numa situação controlada.
Então, temos aqui o que é a prova histórica, que se baseia na demonstração de
que um fato realmente ocorreu, sem qualquer dúvida possível. Em outras
palavras, é possível chegar-se a um veredito com base em provas concludentes.
Isto é, não há uma fundamentação séria e razoável para se duvidar da decisão a
que se chegou. Esta prova estriba-se em três tipos de testemunho: oral, escrito
e de evidências. (MCDOWELL, 1980, p.32-33)
Com isso, empreenderemos o método histórico judicial na
busca das Evidências do Ministério de Jesus, especialmente aquilo que a
arqueologia tem a nos informar e que comprova que os autores dos Evangelhos
foram fiéis em seus registros históricos. Afinal, “Quando alguém se apoia no
método judicial, precisa verificar a fidelidade dos testemunhos.” (MCDOWELL, 1980,p.33)
Embora não possamos reproduzir os fatos do primeiro século
que cercam a vida e o ministério de Jesus, comprovando-o pelo método científico.
Podemos aplicar o método histórico judicial e usar as descobertas arqueológicas
para demonstrar o quão precisos e válidos são os relatos dos evangelistas que
escreveram e história de Jesus.
Segundo Randall Price, em 1961, o arqueólogo A. Frova
encontrou uma estela comemorativa a Tibério César, datada entre 26 a 36 d.C.
com inscrição de Pôncio Pilatos. Mostrando com precisão a historicidade do governador
romano que permitiu aos judeus crucificarem Jesus. Nos anais de Tácito, parte
XV, relata quando Cristo foi executado. “[…]
O nome deles se originava de Cristo, que sob o reinado de Tibério, havia
sofrido a pena de morte por um decreto do procurador Pôncio Pilatos […]”
(TENNEY, 2008, p.505).
Outro personagem que aparece nos relatos bíblicos e que a
arqueologia comprova a sua existência é o sumo-sacerdote Caifás. O arqueólogo
Z. Greenhut encontrou na Floresta da Paz, em Jerusalém no ano de 1990 o
ossuário da família sacerdotal. “Le-se em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa
(“Caifas”, “Jose, filho de Caifas”).22 O Novo Testamento refere-se a ele apenas
como Caifas, mas Josefo apresenta o nome completo: ‘Jose, que era chamado
Caifas do sumo sacerdocio’”. (PRICE, 2006, p.250).
O mesmo Price também nos mostra um achado de restos mortais
de um homem morto crucificado. O osso do calcanhar estava perfurado por um
cravo e junto ao cravo estava um pedaço da madeira da cruz. Isso comprova que a
crucificação era praticada nos dias de Jesus e acontecia conforme os evangelhos
relatam.
Outra menção a cristãos no primeiro século é a carta de
Plínio (62-114 d.C.) ao Imperador
Trajano. Plínio foi procônsul em Jerusalém e fez a seguinte menção aos
cristãos: “[…] maldizer Cristo, um verdadeiro Cristão não o fará jamais… cantam
hinos a Cristo, como a um Deus […]”
.
Suetônio também nos
oferece alguma pista sobre os cristãos do primeiro século, falando sobre a
expulsão dos judeus de Roma, os quais estavam causando tumultos sobre a
influência de tal de “Chrestus”.
Além destes, o
historiador Flávio Josefo, contemporâneo de Jesus, também faz menções sobre
Jesus:
“[…] por volta deste tempo levantou-se Jesus, um homem sábio, se, de
fato, ele poderia ser chamado de homem. Pois ele foi autor de feitos
maravilhosos, um mestre dos homens que recebem a verdade com prazer; e ele
ganhou para si muitos dos judeus e, também muitos gregos (nação). Ele era o
Cristo. E quando sob a acusação dos principais homens entre nós Pilatos o
sentenciou à cruz, aqueles que o haviam amado primeiramente não cessaram; pois
ele lhes apareceu no terceiro dia vivo novamente, sendo que os profetas divinos
haviam profetizado isto e dez mil outras coisas maravilhosas a respeito dele. E
mesmo agora a tribo dos cristãos, chamados segundo ele, não está extinta.[…]”
Antes de finalizar esse capítulo, ainda queremos falar sobre
outro ossuário de calcário típico da época para se depositar os ossos na cidade
de Jerusalém. O ossuário data de aproximadamente 63 d.C. e nele está escrito
“Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Para estudiosos no assunto, o ossuário
trata realmente de Tiago que era o irmão de Jesus Cristo.
Existem outros achados arqueológicos referentes a este
período. Mas selecionamos estes por acha-los mais relevantes para o momento.
Mas nenhum destes achados arqueológicos são tão relevantes quanto a narrativa
dos Evangelhos. Portanto, doravante passaremos a tratar a respeito da
autenticidade e precisão dos relatos dos evangelistas, mostrando que estes são
a mais fidedigna evidência arqueológica do ministério de Jesus.
Os anos passam e as críticas sobre a Bíblia se amontoam,
todavia elas não possuem poder para ofuscar o majestoso brilho das Escrituras.
Referindo-se a Bíblia, o matemático e físico britânico Isaac Newton disse: “a
rocha da qual os martelos dos críticos jamais conseguiram arrancar um único
fragmentos.” (NEWTON, apud BLANCHARD, 2006, p.17) Isso porque as evidências que
apontam para a pureza e fidelidade dos manuscritos bíblicos superam em muito a
qualquer outra obra antiga. E é exatamente sobre isso que passarem a falar.
Segundo F.F. Bruce, “O Novo Testamento estava completo, ou
substancialmente completo, por volta do ano 100 d.C., sendo que a maioria dos
livros já existia cerca de vinte a quarenta anos antes dessa data.” (BRUCE,
2010, p.18). O que aproximam os registros dos fatos. Também mantendo próximos
os registros daqueles que pessoalmente testemunharam os fatos, contribuindo
grandemente para idoneidade dos registros. Nesse sentido, Bruce ainda afirma:
“[...] não há como negar, de forma sensata, que a maioria dos documentos
neotestamentários foi escrita no primeiro século [...]” (BRUCE, 2010, p.22).
Quando se trata das Escrituras, o problema dos críticos é
querer que a Bíblia seja submetida a julgamentos que fogem aos padrões das
críticas de documentos antigos. E todos os documentos antigos, nenhum se
aproxima do Novo Testamento. Veja o que diz Mcdowell:
Atualmente sabe-se da existência
de mais de 5.300 manuscritos gregos do Novo Testamento. Acrescentem-se a esse
número mais de 10.000 manuscritos da Vulgata Latina e, pelo menos, 9.300 de
outras antigas versões, e teremos hoje mais de 24.000 cópias de porções do Novo
Testamento. Nenhum outro documento da história antiga chega perto desses
números e dessa confirmação. Em comparação, a Iliada de Homero vem em segundo
lugar, com apenas 643 manuscritos que sobreviveram até hoje. O primeiro texto
completo e preservado de Homero data do século treze. (Mcdowell, 1996, p.43)
Em sua obra “Merece confiança o Novo Testamento” F.F. Bruce
nos apresenta uma rica lista comparativa de documentos históricos antigos,
tidos por verdadeiros, como De Bello
Gallico, História Romana, Histórias de Tácito, todos eles
preservados através de poucos manuscritos, os quais distam da fonte por
séculos. Muito diferente dos Escritos do Novo Testamento. Assim, Bruce chega a
seguinte conclusão: “[...] nenhum estudioso dos clássicos daria ouvidos à tese
de que a autenticidade de Heródoto ou Tucídides é duvidosa pelo fato de seus
manuscritos mais antigos, e que ainda são usados por nós, datarem de mais de
1300 anos após a escrita dos originais.” (BRUCE, 2010, p.24). Em contrapartida,
a Bíblia possui fragmentos de papiro do ano 130 e 150 d.C., deixando-os muito
próximo dos autógrafos.
Outra ampla fonte de comprovação do Novo Testamento são os
escritos antigos dos Pais Apostólicos, cujos escritos remontam ao período de 90
a 160 d.C. Nestes escritos podemos encontrar muitas citações de textos
bíblicos, evidenciando a familiaridade que estes autores tinham com os escritos
do Novo Testamento. Passagens de quase todos os livros do N.T. podem ser
encontradas em citações no “Didaquê”, “Epístola de Barnabé” ou no “Ensino dos
Doze Apóstolos”.
Queremos ainda reforçar nossos argumentos apresentando algo
Josh Mcdowell traz em sua obra Mais que
um Carpinteiro: “O historiador militar C. Sanders aponta e explica os três
princípios básicos de historiografia. São eles: o teste bibliográfico, o teste
da evidência interna e o teste da
evidência externa.” (MCDOWELL, 1980, p.40, grifo nosso). Passaremos a
apresenta-los.
O teste bibliográfico
busca examinar a forma como texto foi transmitido ao longo dos anos até a nós.
Isso é feito através do número de manuscritos disponíveis, qualidade e
fidelidade das cópias e o intervalo entre o manuscrito e o autógrafo. Assim,
sabendo que os manuscritos do N.T. sobejam em muito a qualquer outro texto
antigo em todos estes aspectos (quantidade de manuscritos, qualidade,
fidelidade e proximidade temporal com os autógrafos), Mcdowell chega a seguinte
conclusão: “Quando examinamos a autoridade dos manuscritos do Novo Testamento,
a abundância de material é quase constrangedora em contraste com outras obras.”
(MCDOWELL, 1980, p.41) E na sequência, o mesmo autor continua a argumentar:
“Aplicando o teste bibliográfico
ao Novo Testamento, veremos que ele possui maior base manuscrítica que qualquer
outra peça literária da antiguidade. Juntando-se a isto o volume de crítica
textual do Livro que já se faz há mais de cem anos, pode-se concluir que está
estabelecida a autenticidade do texto do Novo Testamento.” (MCDOWELL, 1980,
p.41)
Tendo o texto Bíblico passado ileso pelo teste
bibliográfico, passamos para o próximo teste.
Enquanto o teste bibliográfico refere-se aos manuscritos a
forma como estes foram transmitidos e preservados. O teste da evidência interna
busca avaliar o que foi registrado. Ou seja, a precisão, fidelidade e coerência
daquilo que foi relatado pelos escritores. Aqui, mais uma vez, os Evangelhos
passam ilesos, pois precisamos levar em conta dois fatores. O primeiro é a
proximidade dos acontecimentos e o seu registro e, em segundo lugar, a
validação por parte de outras testemunhas que testemunharam os fatos. A esse
respeito, Mcdowell argumenta:
Os relatos acerca de Cristo
encontrados no Novo Testamento estavam sendo circulados nos limites do tempo de
vida daqueles que foram contemporâneos dele. Essas pessoas poderiam, portanto,
confirmar ou negara exatidão dos relatos. Os próprios apóstolos, ao defenderem
sua apresentação da mensagem evangélica, haviam apelado (mesmo quando
confrontados por seus ferrenhos opositores) ao conhecimento público geral a
respeito de Jesus. (MCDOWELL, 1980, p.44)
Sabemos que até os opositores do Evangelho não podiam negar
os feitos de Cristo. Seu ministério público foi notório a todos em seu tempo. Assim,
aqueles que foram os primeiros leitores das cartas e dos Evangelhos não
contestaram, antes confirmaram os registros.
O terceiro e último teste aponta para fontes externas, ou
seja, outros escritores contemporâneos, ou mesmo registros arqueológicos que
confirmem os relatos harmonizando-os na história. Nesse aspecto, podemos citar contemporâneos
dos registros como Papias, discípulo do apostolo João, cujos escritos foram
preservados por Eusébio e que confirmam a veracidade:
"O ancião (apóstolo João)
costumava dizer também o seguinte: "Marcos, tendo sido o intérprete de
Pedro, anotou acuradamente o que ele (Pedro) relatou, sejam as palavras ou
feitos de Cristo, embora não em ordem. Pois ele não fora ouvinte nem
acompanhante do Senhor, mas mais tarde acompanhou a Pedro, que ministrava o
ensino de acordo com a necessidade do momento, mas não como se estivesse
fazendo uma compilação das palavras do Senhor. Portanto, Marcos não errou, ao
escrever do modo como fez, anotando as coisas à medida que ele as mencionava,
pois tinha em mente uma coisa: não omitir nada que tivesse ouvido, nem
introduzir qualquer informação falsa entre as outras." (EUSÉBIO, apud,
MCDOWELL, 1980, p.47).
Papias não é o único que pode confirmar isto. Policarpo,
outro contemporâneo, discípulo de João também confirma tais relatos. Além
destes, temos também a arqueologia apresentada no primeiro capítulo deste trabalho.
“A
arqueologia, por vezes, fornece fortes evidências externas também. Ela contribui
para a crítica bíblica, não no que tange à sua inspiração e revelação, mas
oferecendo provas que evidenciam a exatidão dos eventos registrados.”
(MCDOWELL, 1980, p.48).
Embora muitos tentem negar a historicidade do ministério e
vida de Jesus. Percebemos que tempo abundantes registros Bíblicos e extra
bíblicos que comprovam aquilo que os Evangelhos nos relatam sobre a pessoa do
nosso Salvador.
Temos muito mais argumentos sólidos para afirmar a validade
do Novo Testamento do que qualquer outro escrito antigo, pois se encontra
preservado em muitos manuscritos, os quais estão mais próximos dos registros do
que qualquer outro registro antigo.
Portanto, a manuscritologia, a arqueologia e o fiel
testemunho de incontáveis gerações de cristãos são testemunhas fieis que
atestam a o ministério de Jesus como verdadeiro.
BRUCE, F.F. Merece
Confiança o Novo Testamento? Traduzido por Waldir Carvalho Luz. 3ªEd. São
Paulo: Vida Nova, 2010. 158p.
BLANCHARD, John. Por
que Acreditar na Bíblia? Traduzido por Maurício F. dos Santos jr. São José
dos Campos: FIEL, 2006. 54p.
MCDOWELL, Josh. Mais
que um Carpinteiro. Traduzido por Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora
Betânia, 1980. 113p.
MCDOWELL, Josh. Evidência
que Exige um Veredito: Evidências históricas da Fé Cristã. Traduzido por
Márcio Redondo. São Paulo: Editora Candeia, 1996. 331p.
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 3v.
PRICE, Randall. Arqueologia
Bíblica. Traduzido por Sergio Viala e Luis
Aron de Macedo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. 352p.