terça-feira, 9 de agosto de 2016

Nisto Creio...


Eu Creio em um único DEUS que é PAI Todo Poderoso, cujo poder criou, do nada, os Céus e a Terra, todas as coisas visíveis e invisíveis.
Eu Creio em JESUS, o Cristo, o Filho Unigênito de DEUS, a imagem revelada do PAI, a expressão exata do ser de DEUS, nosso SENHOR. Nasceu da virgem Maria, Padeceu sob o poder dos homens, vindo a ser julgado, morto e sepultado para expiar os pecados dos eleitos. Mas a morte não teve poder sobre ELE, pois ressuscitou ao terceiro dia, foi assunto ao Céu, glorificado, exaltado e entronizado à destra de DEUS PAI de onde virá julgar os vivos e os mortos.
Eu Creio no Divino Espírito Santo, procedente do PAI e do FILHO, o CONSOLADOR, inspirador e iluminador das Sagradas Escrituras. Aquele que abre o entendimento dos homens e lhes aplica no coração os méritos de Cristo.
Eu Creio também que há uma única Igreja, Noiva de Cristo, espalhada sobre a face da Terra, reconhecida por sua fidelidade às Escrituras, pela administração correta dos Sacramentos (Batismo e Santa Ceia) e a aplicação justa da disciplina.
Paráfrase inspirada no Credo Apostólico e outros e Confissões Reformadas
Autor: Vanderson Scherre Gomes

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS DO MINISTÉRIO DE JESUS


INTRODUÇÃO



A Fé Cristã Evangélica nunca foi e nunca será um convite para caminharmos nas trevas da ignorância. Antes, somos desafiados pela própria Escritura a estar “[...] sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,” (1Pedro 3:15 RA). Assim, tendo em vista o crescimento de movimentos ateístas e liberais teológicos, esta pesquisa serve como instrumento de solidificação e aparelhamento da Fé, buscando identificar nos achados arqueológicos e registros históricos elementos que corroborem a historicidade da pessoa e mistério Messiânico de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O escritor Josh Mcdowell tem prestado um importante serviço à Igreja nesse sentido, buscando através de acuradas pesquisas, comprovar aos céticos a validade e veracidade dos relatos das Escrituras. Em sua obra “Mais que um Carpinteiro”, Josh fala sobre precisão dos relatos bíblicos em relação a Jesus e no terceiro capítulo de seu trabalho ele nos apresenta o método que devemos empregar na verificação da narrativa dos Evangelhos em contraponto ao convencional método científico:


Precisamos entender a diferença entre prova científica e o que eu denomino prova histórica judicial. Deixe-me explicar. A prova científica baseia-se na demonstração de que algo é fato pela repetição do experimento em presença do indivíduo que o questiona. Porém, se o método científico fosse o único meio de se provar qualquer coisa, você não poderia provar, por exemplo, quem foi à aula ou ao trabalho hoje pela manhã, ou que almoçou. É totalmente impossível repetir tais eventos numa situação controlada. Então, temos aqui o que é a prova histórica, que se baseia na demonstração de que um fato realmente ocorreu, sem qualquer dúvida possível. Em outras palavras, é possível chegar-se a um veredito com base em provas concludentes. Isto é, não há uma fundamentação séria e razoável para se duvidar da decisão a que se chegou. Esta prova estriba-se em três tipos de testemunho: oral, escrito e de evidências. (MCDOWELL, 1980, p.32-33)


Com isso, empreenderemos o método histórico judicial na busca das Evidências do Ministério de Jesus, especialmente aquilo que a arqueologia tem a nos informar e que comprova que os autores dos Evangelhos foram fiéis em seus registros históricos. Afinal, “Quando alguém se apoia no método judicial, precisa verificar a fidelidade dos testemunhos.” (MCDOWELL, 1980,p.33)


1- Achados Arqueológicos



Embora não possamos reproduzir os fatos do primeiro século que cercam a vida e o ministério de Jesus, comprovando-o pelo método científico. Podemos aplicar o método histórico judicial e usar as descobertas arqueológicas para demonstrar o quão precisos e válidos são os relatos dos evangelistas que escreveram e história de Jesus.
Segundo Randall Price, em 1961, o arqueólogo A. Frova encontrou uma estela comemorativa a Tibério César, datada entre 26 a 36 d.C. com inscrição de Pôncio Pilatos. Mostrando com precisão a historicidade do governador romano que permitiu aos judeus crucificarem Jesus. Nos anais de Tácito, parte XV, relata quando Cristo foi executado. “[…] O nome deles se originava de Cristo, que sob o reinado de Tibério, havia sofrido a pena de morte por um decreto do procurador Pôncio Pilatos […]” (TENNEY, 2008, p.505).
Outro personagem que aparece nos relatos bíblicos e que a arqueologia comprova a sua existência é o sumo-sacerdote Caifás. O arqueólogo Z. Greenhut encontrou na Floresta da Paz, em Jerusalém no ano de 1990 o ossuário da família sacerdotal. “Le-se em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa (“Caifas”, “Jose, filho de Caifas”).22 O Novo Testamento refere-se a ele apenas como Caifas, mas Josefo apresenta o nome completo: ‘Jose, que era chamado Caifas do sumo sacerdocio’”. (PRICE, 2006, p.250).
O mesmo Price também nos mostra um achado de restos mortais de um homem morto crucificado. O osso do calcanhar estava perfurado por um cravo e junto ao cravo estava um pedaço da madeira da cruz. Isso comprova que a crucificação era praticada nos dias de Jesus e acontecia conforme os evangelhos relatam.
Outra menção a cristãos no primeiro século é a carta de Plínio (62-114 d.C.) ao Imperador Trajano. Plínio foi procônsul em Jerusalém e fez a seguinte menção aos cristãos: “[…] maldizer Cristo, um verdadeiro Cristão não o fará jamais… cantam hinos a Cristo, como a um Deus […]”[1].
Suetônio também nos oferece alguma pista sobre os cristãos do primeiro século, falando sobre a expulsão dos judeus de Roma, os quais estavam causando tumultos sobre a influência de tal de “Chrestus”.
Além destes, o historiador Flávio Josefo, contemporâneo de Jesus, também faz menções sobre Jesus:


“[…] por volta deste tempo levantou-se Jesus, um homem sábio, se, de fato, ele poderia ser chamado de homem. Pois ele foi autor de feitos maravilhosos, um mestre dos homens que recebem a verdade com prazer; e ele ganhou para si muitos dos judeus e, também muitos gregos (nação). Ele era o Cristo. E quando sob a acusação dos principais homens entre nós Pilatos o sentenciou à cruz, aqueles que o haviam amado primeiramente não cessaram; pois ele lhes apareceu no terceiro dia vivo novamente, sendo que os profetas divinos haviam profetizado isto e dez mil outras coisas maravilhosas a respeito dele. E mesmo agora a tribo dos cristãos, chamados segundo ele, não está extinta.[…]”


Antes de finalizar esse capítulo, ainda queremos falar sobre outro ossuário de calcário típico da época para se depositar os ossos na cidade de Jerusalém. O ossuário data de aproximadamente 63 d.C. e nele está escrito “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Para estudiosos no assunto, o ossuário trata realmente de Tiago que era o irmão de Jesus Cristo.[2]
Existem outros achados arqueológicos referentes a este período. Mas selecionamos estes por acha-los mais relevantes para o momento. Mas nenhum destes achados arqueológicos são tão relevantes quanto a narrativa dos Evangelhos. Portanto, doravante passaremos a tratar a respeito da autenticidade e precisão dos relatos dos evangelistas, mostrando que estes são a mais fidedigna evidência arqueológica do ministério de Jesus.


2- OS EVANGELHOS SÃO AS MAIORES TESTEMUNHAS



Os anos passam e as críticas sobre a Bíblia se amontoam, todavia elas não possuem poder para ofuscar o majestoso brilho das Escrituras. Referindo-se a Bíblia, o matemático e físico britânico Isaac Newton disse: “a rocha da qual os martelos dos críticos jamais conseguiram arrancar um único fragmentos.” (NEWTON, apud BLANCHARD, 2006, p.17) Isso porque as evidências que apontam para a pureza e fidelidade dos manuscritos bíblicos superam em muito a qualquer outra obra antiga. E é exatamente sobre isso que passarem a falar.
Segundo F.F. Bruce, “O Novo Testamento estava completo, ou substancialmente completo, por volta do ano 100 d.C., sendo que a maioria dos livros já existia cerca de vinte a quarenta anos antes dessa data.” (BRUCE, 2010, p.18). O que aproximam os registros dos fatos. Também mantendo próximos os registros daqueles que pessoalmente testemunharam os fatos, contribuindo grandemente para idoneidade dos registros. Nesse sentido, Bruce ainda afirma: “[...] não há como negar, de forma sensata, que a maioria dos documentos neotestamentários foi escrita no primeiro século [...]” (BRUCE, 2010, p.22).
Quando se trata das Escrituras, o problema dos críticos é querer que a Bíblia seja submetida a julgamentos que fogem aos padrões das críticas de documentos antigos. E todos os documentos antigos, nenhum se aproxima do Novo Testamento. Veja o que diz Mcdowell:


Atualmente sabe-se da existência de mais de 5.300 manuscritos gregos do Novo Testamento. Acrescentem-se a esse número mais de 10.000 manuscritos da Vulgata Latina e, pelo menos, 9.300 de outras antigas versões, e teremos hoje mais de 24.000 cópias de porções do Novo Testamento. Nenhum outro documento da história antiga chega perto desses números e dessa confirmação. Em comparação, a Iliada de Homero vem em segundo lugar, com apenas 643 manuscritos que sobreviveram até hoje. O primeiro texto completo e preservado de Homero data do século treze. (Mcdowell, 1996, p.43)


Em sua obra “Merece confiança o Novo Testamento” F.F. Bruce nos apresenta uma rica lista comparativa de documentos históricos antigos, tidos por verdadeiros, como De Bello Gallico, História Romana, Histórias de Tácito, todos eles preservados através de poucos manuscritos, os quais distam da fonte por séculos. Muito diferente dos Escritos do Novo Testamento. Assim, Bruce chega a seguinte conclusão: “[...] nenhum estudioso dos clássicos daria ouvidos à tese de que a autenticidade de Heródoto ou Tucídides é duvidosa pelo fato de seus manuscritos mais antigos, e que ainda são usados por nós, datarem de mais de 1300 anos após a escrita dos originais.” (BRUCE, 2010, p.24). Em contrapartida, a Bíblia possui fragmentos de papiro do ano 130 e 150 d.C., deixando-os muito próximo dos autógrafos.
Outra ampla fonte de comprovação do Novo Testamento são os escritos antigos dos Pais Apostólicos, cujos escritos remontam ao período de 90 a 160 d.C. Nestes escritos podemos encontrar muitas citações de textos bíblicos, evidenciando a familiaridade que estes autores tinham com os escritos do Novo Testamento. Passagens de quase todos os livros do N.T. podem ser encontradas em citações no “Didaquê”, “Epístola de Barnabé” ou no “Ensino dos Doze Apóstolos”.
Queremos ainda reforçar nossos argumentos apresentando algo Josh Mcdowell traz em sua obra Mais que um Carpinteiro: “O historiador militar C. Sanders aponta e explica os três princípios básicos de historiografia. São eles: o teste bibliográfico, o teste da evidência interna e o teste da evidência externa.” (MCDOWELL, 1980, p.40, grifo nosso). Passaremos a apresenta-los.


2.1- Teste Bibliográfico



O teste bibliográfico busca examinar a forma como texto foi transmitido ao longo dos anos até a nós. Isso é feito através do número de manuscritos disponíveis, qualidade e fidelidade das cópias e o intervalo entre o manuscrito e o autógrafo. Assim, sabendo que os manuscritos do N.T. sobejam em muito a qualquer outro texto antigo em todos estes aspectos (quantidade de manuscritos, qualidade, fidelidade e proximidade temporal com os autógrafos), Mcdowell chega a seguinte conclusão: “Quando examinamos a autoridade dos manuscritos do Novo Testamento, a abundância de material é quase constrangedora em contraste com outras obras.” (MCDOWELL, 1980, p.41) E na sequência, o mesmo autor continua a argumentar:


“Aplicando o teste bibliográfico ao Novo Testamento, veremos que ele possui maior base manuscrítica que qualquer outra peça literária da antiguidade. Juntando-se a isto o volume de crítica textual do Livro que já se faz há mais de cem anos, pode-se concluir que está estabelecida a autenticidade do texto do Novo Testamento.” (MCDOWELL, 1980, p.41)


Tendo o texto Bíblico passado ileso pelo teste bibliográfico, passamos para o próximo teste.


2.2- Teste da Evidência Interna



Enquanto o teste bibliográfico refere-se aos manuscritos a forma como estes foram transmitidos e preservados. O teste da evidência interna busca avaliar o que foi registrado. Ou seja, a precisão, fidelidade e coerência daquilo que foi relatado pelos escritores. Aqui, mais uma vez, os Evangelhos passam ilesos, pois precisamos levar em conta dois fatores. O primeiro é a proximidade dos acontecimentos e o seu registro e, em segundo lugar, a validação por parte de outras testemunhas que testemunharam os fatos. A esse respeito, Mcdowell argumenta:


Os relatos acerca de Cristo encontrados no Novo Testamento estavam sendo circulados nos limites do tempo de vida daqueles que foram contemporâneos dele. Essas pessoas poderiam, portanto, confirmar ou negara exatidão dos relatos. Os próprios apóstolos, ao defenderem sua apresentação da mensagem evangélica, haviam apelado (mesmo quando confrontados por seus ferrenhos opositores) ao conhecimento público geral a respeito de Jesus. (MCDOWELL, 1980, p.44)


Sabemos que até os opositores do Evangelho não podiam negar os feitos de Cristo. Seu ministério público foi notório a todos em seu tempo. Assim, aqueles que foram os primeiros leitores das cartas e dos Evangelhos não contestaram, antes confirmaram os registros.


2.3- Teste da Evidência Externa



O terceiro e último teste aponta para fontes externas, ou seja, outros escritores contemporâneos, ou mesmo registros arqueológicos que confirmem os relatos harmonizando-os na história. Nesse aspecto, podemos citar contemporâneos dos registros como Papias, discípulo do apostolo João, cujos escritos foram preservados por Eusébio e que confirmam a veracidade:


"O ancião (apóstolo João) costumava dizer também o seguinte: "Marcos, tendo sido o intérprete de Pedro, anotou acuradamente o que ele (Pedro) relatou, sejam as palavras ou feitos de Cristo, embora não em ordem. Pois ele não fora ouvinte nem acompanhante do Senhor, mas mais tarde acompanhou a Pedro, que ministrava o ensino de acordo com a necessidade do momento, mas não como se estivesse fazendo uma compilação das palavras do Senhor. Portanto, Marcos não errou, ao escrever do modo como fez, anotando as coisas à medida que ele as mencionava, pois tinha em mente uma coisa: não omitir nada que tivesse ouvido, nem introduzir qualquer informação falsa entre as outras." (EUSÉBIO, apud, MCDOWELL, 1980, p.47).


Papias não é o único que pode confirmar isto. Policarpo, outro contemporâneo, discípulo de João também confirma tais relatos. Além destes, temos também a arqueologia apresentada no primeiro capítulo deste trabalho. “A arqueologia, por vezes, fornece fortes evidências externas também. Ela contribui para a crítica bíblica, não no que tange à sua inspiração e revelação, mas oferecendo provas que evidenciam a exatidão dos eventos registrados.” (MCDOWELL, 1980, p.48).


CONCLUSÃO



Embora muitos tentem negar a historicidade do ministério e vida de Jesus. Percebemos que tempo abundantes registros Bíblicos e extra bíblicos que comprovam aquilo que os Evangelhos nos relatam sobre a pessoa do nosso Salvador.
Temos muito mais argumentos sólidos para afirmar a validade do Novo Testamento do que qualquer outro escrito antigo, pois se encontra preservado em muitos manuscritos, os quais estão mais próximos dos registros do que qualquer outro registro antigo.
Portanto, a manuscritologia, a arqueologia e o fiel testemunho de incontáveis gerações de cristãos são testemunhas fieis que atestam a o ministério de Jesus como verdadeiro.


REFERÊNCIAS



BRUCE, F.F. Merece Confiança o Novo Testamento? Traduzido por Waldir Carvalho Luz. 3ªEd. São Paulo: Vida Nova, 2010. 158p.
BLANCHARD, John. Por que Acreditar na Bíblia? Traduzido por Maurício F. dos Santos jr. São José dos Campos: FIEL, 2006. 54p.
MCDOWELL, Josh. Mais que um Carpinteiro. Traduzido por Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora Betânia, 1980. 113p.
MCDOWELL, Josh. Evidência que Exige um Veredito: Evidências históricas da Fé Cristã. Traduzido por Márcio Redondo. São Paulo: Editora Candeia, 1996. 331p.
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 3v.
PRICE, Randall. Arqueologia Bíblica. Traduzido por Sergio Viala e Luis Aron de Macedo. 5ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. 352p.



[1] Citação retirada do site: http://top10mais.org/top-10-evidencia-existencia-jesus-cristo/

[2] Citação retirada do site: http://top10mais.org/top-10-evidencia-existencia-jesus-cristo/

A Importância da Cidade de Jerusalém para o Reino Unido de Israel: Uma perspectiva geográfica


Introdução 

Quando lemos as Escrituras, seus comentaristas e até mesmo a história secular, é impossível não notar a relevância da cidade de Jerusalém. Desde os dias dos patriarcas até a era apostólica, Jerusalém foi palco de acontecimentos que marcaram de uma vez por todas a história do Povo de DEUS, bem como a história de toda a humanidade. Entretanto, dentre todos estes períodos, queremos destacar a importância desta cidade para o Reino Unido de Israel dentro de uma perspectiva geográfica.
Para tal, faremos um breve levantamento da história de Jerusalém antes da era monárquica Israelita, pontuando aspectos mais importantes segundo a narrativa bíblica. Em seguida, abordaremos os aspectos estratégicos, políticos e geográficos que permitiram a Jerusalém desempenhar um papel de polarização tão importante durante a monarquia.
Acreditamos que tudo isso nos ajudará a compreender um pouco melhor a forma do SENHOR agir no espaço geográfico para levar a bom termo os seus decretos eternos.




Falar da história de Jerusalém é um grande desafio, pois não estamos falando de uma cidade contemporânea, mas de um dos maiores ícones do mundo antigo, pois ainda nos dias do patriarca Abraão – que remontam a aproximadamente 2100 a.C. – já podemos perceber a existência de uma Jerusalém embrionária, naqueles dias conhecida como Salém, uma Cidade Estado dotada de estruturas governamentais e religiosas que convergiam na pessoa de Melquisedeque, rei de Salém, o qual também é chamado de “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18). Embora não existam testemunhos arqueológicos que comprovem a associação direta entre Salém e Jerusalém, muitos estudiosos de renome a sustentam, tais como: Bruce: “Melquisedeque de Jerusalém (esse nome ocasionalmente é abreviado como Salém, cf. Sl. 76.2)” (BRUCE, 2008, p.171); Robertson: “[...] na estrada que corre pela crista da cordilheira central da Palestina, teria chegado ao local de Salém. Mais conhecido pelo nome de Jerusalém, esta cidade, que é a mais importante de todas na história da redenção, fica no extremo norte das montanhas da Judéia.” (ROBERTSON, 2010, p70); Tognini:

A raiz IRW encerra a ideia de “fundamento”, ou “estabelecimento” e SALEM é o deus cujo altar-sede estava na cidade. Em Gên. 14.18 aparece apenas SALEM; o Salmo 76.2 desdobra a palavra SALEM e SIÃO. O mesmo acontece no registro da carta 290 de Tell El-Amarna, onde se lê: SALIM ou SALMANU. O Gênesis apócrifo diz taxativamente: “Jerusalém é Salém”. (TOGNINI, 1983, p.204)

A possibilidade da antiga Salém ser Jerusalém enriquece ainda mais o seu histórico, haja vista o fato de Melquisedeque estar associado à pessoa de Cristo, como nos mostra a carta aos Hebreus 5.6.
O primeiro contato de Abraão com o rei de Salém aconteceu após a batalha dos quatro reis contra cinco, quando Melquisedeque sai ao encontro de Abraão com pão e vinho e este lhe paga o dízimo e é por aquele abençoado. Mas ainda outro fato importante aconteceu nas imediações da antiga Jerusalém nos dias de Abraão. O monte Moriá, um dos montes que compõe o conjunto orográfico desta cidade, foi palco de um dos episódios mais dramáticos da vida de Abraão, “No monte Moriá, em Jerusalém, Abraão atou ao altar o seu único filho, o filho a quem amava (Gn.22.9-10). Felizmente, só foi exigido do patriarca que executasse esse sacrifício em seu coração [...]” (ROBERTSON, 2010, p.70).
Depois disso, a Bíblia se cala quanto aos rumos desta cidade, voltando a falar dela nos dias da conquista da Terra Santa com Josué, sucessor de Moisés. Todavia, ela não aparece mais como uma cidade amiga de Israel, e sim como uma das principais opositoras na conquista da Terra Prometida. Tal oposição não logrou êxito, mas Jerusalém provou ser uma cidade difícil de ser conquistada. “A cidade de Jerusalém fora tomada no tempo dos Juízes (Jz 1.8), mas não a fortaleza dos jebuseus. Essa ficava na colina sudeste, mais tarde chamada cidade de Davi ou Sião.” (UNGER, 2006, p.161).
Essa condição de conquista parcial da cidade dos jebuseus perdurou até os dias do reinado de Davi. Tal conquista era tida como impossível por parte dos jebuseus, pois confiavam nas barreiras naturais que impediam o avanço de qualquer exército: “Jerusalém está edificada sobre montes: a noroeste, o Acra; a nordeste, o Bezeta; ao ocidente, o Sião: ao oriente, o Moriá, e a suleste, o Ofel.” (TOGNINI, 1983, p.204). Esse conjunto de montes conferia a Jerusalém uma condição única. Uma vez que todo o seu contorno, com exceção da face norte, era formado de profundos vales em “V”, que por sua vez, eram acompanhados por muralhas densas e sólidas. Portanto, sitiar Jerusalém era uma tarefa difícil, dado que exércitos só poderiam chegar aos portões da cidade pela face norte. Nem mesmo os romanos entre 66 a 70 D.C. tentaram entrar em Jerusalém pelos lados cercados pelos vales.




Vimos no item anterior os obstáculos naturais que dificultavam a conquista completa e definitiva da cidade de Jerusalém. Assim, podemos nos perguntar: O que levaria um rei, que buscava sua consolidação em meio a uma nação dividida, a atacar uma fortaleza tida como inexpugnável? Não estaria Davi colocando em risco o seu reinado?
É bem verdade que Davi estava arriscando a sua coroa, pois uma derrota nessa fase de consolidação do seu reinado, certamente instigaria seus opositores a usurpar o seu trono. Mas os motivos que levaram Davi a empreender dura e acirrada campanha militar contra esta cidade (2Samuel 5.6-10) foram estes: 1-Localização estratégica do ponto de vista militar e geográfico: Da mesma forma que Davi e os líderes do povo de Deus que vieram antes dele tiveram dificuldade de conquistar Jerusalém, sob o domínio de Davi, Jerusalém se tornaria ainda mais sólida e resistente a qualquer investida militar adversária, como de fato se tornou. Além dos aspectos físicos da paisagem que compõe Jerusalém e que dificultam quaisquer ataques, temos também o fato de que Jerusalém estava mais centralizada dentro do território dominado por Davi. O que é uma vantagem do ponto de vista defensivo, pois qualquer ataque contra Jerusalém, obrigatoriamente, teria que se deslocar por longas distâncias dentro dos domínios de Davi antes de chegarem ao seu alvo principal, facilitando assim a organização de estratégias defensivas; 2- Politicamente Neutra: A tomada de Jerusalém e sua escolha como capital do reino também possui um forte viés político. “Sua tomada foi politicamente importante porque extirpou o último vestígio de controle cananeu na região, e deu ao reino uma capital neutra, situada entre Judá e Israel, mas pertencente a ambos.” (UNGER, 2006, p161). Segundo ROBERTSON, a escolha de Jerusalém como capital foi uma medida politicamente perfeita, pois sua localização próxima das tribos de Benjamim e Efraim (principais opositoras), mas ainda assim junto a fronteira de Judá (principal apoio) poderia apaziguar os ânimos de ambos os lados, canalizando a força das tribos para os conflitos externos. Portanto, Jerusalém valia o risco de ser conquistada.




Tendo uma vez dominado a cidade e eliminado os jebuseus, Davi tomou medidas para transformar e aperfeiçoar a nova capital. “Ele a ocupou e realizou um grande trabalho de reconstrução para fazer dela a capital digna do reino. [...] aparentemente começando as fortificações concluídas posteriormente por Salomão (cf. 1Rs 9.15,24).” (BRUCE, 2008, 515).
Mas o que transformou Jerusalém no principal ponto de convergência e polarização dos Judeus não foi o fato dela ser difícil de ser conquistada, ou mesmo o fato dela estar mais centralizada que a antiga capital Hebrom. Os dois elementos que conferiram tal proeminência a Jerusalém foram: a- a permanência do trono real em Jerusalém; b- e o principal, a transferência do Tabernáculo para Jerusalém, seguida da construção do Templo por Salomão. “A arca entrou em Jerusalém em meio a muita celebração e os levitas a colocaram na tenda que Davi havia preparado para ela. Jerusalém tornava-se o centro espiritual e político de Israel.” (ARNOLD, 2001, p214).
Enquanto capital política, Jerusalém passa a receber diariamente pessoas de todo o reino que buscavam estar na presença do rei, para que este pudesse julgar suas causas. A família real e todos os demais nobres também passam a ter Jerusalém como seu local de morada e principal ponto de referência. Consequentemente, comerciantes de todos os seguimentos também seriam atraídos para Jerusalém a fim de suprir a demanda por mercadorias que a nobreza geraria. Mais comerciantes implica também na presença de mais caravanas mercantes para abastecer os mercados de Jerusalém. Se somarmos a tudo isso o fato da Palestina como um todo estar no ponto de convergência de três continentes (África, Europa e Ásia), chegamos à conclusão que Jerusalém se tornou parada obrigatória de qualquer viajante entre estes continentes. Não é atoa que “Os cartógrafos medievais representavam o mundo por um círculo, com Jerusalém no centro.” (TOGNINI, 1983, p.11).
Todavia, o que fez de Jerusalém a cidade mais importante do Reino Unido de Israel em todos os tempos foi o fato dela ser a capital religiosa dos hebreus. O que implica na confluência periódica de toda a nação para Jerusalém para a celebração das festas estabelecidas pelo próprio Deus. Todos os anos, por várias vezes no ano, os israelitas subiam para Jerusalém com suas famílias para celebrarem três grupos de festas: No mês de Abib - Páscoa, Pães asmos e primícias; No mês de Sivan – Pentecostes; E no mês de Tishri - Festa das Trombetas, Dia da Expiação, Tabernáculos e Santa Convocação. Para ressaltar a importância dessas festividades e peregrinações para Jerusalém, podemos citar os vários cantos de romagem contidos no livro dos Salmos, os quais eram cantados enquanto as caravanas dirigiam-se para o Templo do SENHOR edificado por Salomão em Jerusalém. Essa prática ainda perdura nos dias de Jesus como nos relata o evangelista Lucas: “Ora, anualmente iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa.” (Lucas 2:41 RA) e podemos ver isso se repetindo ao longo do ministério de Jesus com seus discípulos, sempre indo e vindo a Jerusalém para as suas festividades (João 2.23, 5.1, 12.12) e também no cumprimento do Pentecostes (Atos 2.5).
Jerusalém exercia um poder de polarização tão forte sobre os israelitas, que Jeroboão, após a divisão do reino entre norte (Israel) e sul (Judá), percebeu isso, tomando a seguinte atitude:

Disse Jeroboão consigo: Agora, tornará o reino para a casa de Davi.  Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de Judá.  Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito!  Pôs um em Betel e o outro, em Dã.” (1 Reis 12:26-29 RA)


Portanto, percebemos que a vida de todo o povo de Deus na nação de Israel, e até mesmo fora dela, era grandemente influenciada pela cidade de Jerusalém. Afinal, toda a sua vida religiosa e política estava profundamente arraigada a capital dos hebreus. Mas ainda gostaria de concluir com as palavras de Enéas Tognini:

[...] Jerusalém não era o centro do mundo, mas a cidade estratégica e estrategicamente posta por Deus, para onde se voltaria a atenção do mundo inteiro, “na plenitude dos tempos” (Gál.4.4) com o advento do Filho de Deus. Canaã era uma meta a ser alcançada. Temos, então, a razão de Deus fazer convergir o curso da história do mundo antigo para essa nesga de terra, disputada pelas potências do passado próximo e remoto e ainda na atualidade. A importância não está tanto na posição geográfica de Canaã, como no que nela se desenrolou, principalmente no que tange ao Messias o Filho de Deus. (TOGNINI, 1983, p.14)


  
Ao longo dessa breve pesquisa, nos foi possível perceber que desde os dias dos patriarcas, a Jerusalém embrionária (Salém), já tinha um papel relevante no plano da redenção. E assim como as Escrituras tiveram sua revelação de forma progressiva, Jerusalém também cresceu progressivamente em importância e relevância na história do povo de Deus até chegar a sua plenitude. E desde que foi elevada ao status de capital, sem sombra de dúvidas, Jerusalém tornou-se o maior centro polarizador para toda a nação.
Assim, as tribos de Israel que se encontravam dispersas nos dias que antecediam a conquista de Jerusalém, uniram-se em torno de sua nova capital e assim permaneceram durante o restante do reinado de Davi e durante todo o reinado de Salomão.


REFERÊNCIAS


ARNOLD, Bill T; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. Tradução de Suzana Klaen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. 527p.
BRUCE, F.F. (Org.) Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Tradução de Valdemar Kroker. São Paulo: Editora Vida, 2008. 2271p.
ROBERTSON, O.Palmer. Terra de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. 143p.
TOGNINI, Enéas. Geografia da Terra Santa. 2.ed. São Paulo: Louvores do Coração, 1983. 230p.

UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. Tradução de Eduardo P. e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 2006. 743p.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

As Festividades e Comemorações Judaicas como Expressões do Pacto

Por Vanderson Scherre Gomes

 Quando somos estimulados por apenas um de nossos sentidos, nossa capacidade de retenção de informações é bastante limitada. Mas quando usamos simultaneamente vários deles para um mesmo fim, a absorção de informações cresce consideravelmente.
Partindo desse princípio, podemos considerar as festividades e comemorações praticadas pelo povo de Deus como um método extremamente eficaz de memorização e recordação daquilo que Deus fez e ainda faria no meio do seu povo. COLEMAN (1991, p.263) confirma esta idéia dizendo que as festas do povo de Deus eram de cunho educativo. Ou seja, “O propósito divino nas festas de Israel era o de trazer o elemento temporal para o círculo de adoração. Eram os ‘encontros’ do Senhor com Israel pra comunhão, instrução e reflexão sobre o relacionamento e as responsabilidades da aliança.” (ELLISEN, 2010, p.53). HALLEY (2001, p.144) concorda com essa idéia e acrescenta “As festas de Israel tinham o propósito de manter Deus sempre nos pensamentos do povo e, num nível prático, promover a unidade nacional.” Apenas falar sobre o que Deus fez e ainda faria não tem a mesma eficácia do que cantar, dançar, comer, orar, ler, chorar e representar os feitos e as promessas de Deus. Segundo Halley, as festas exerciam uma influência tão grande sobre o povo, que umas das primeiras medidas de Jeroboão I, após a divisão das doze tribos foi estabelecer as próprias festas do Reino do Norte, a fim de que o povo não tornasse para Jerusalém, que estava sob o domínio de Judá (1Reis 12.26-27).
Devemos lembrar que nosso conceito de festa é bem diferente daquele praticado pela nação de Israel. Segundo Aurélio, a finalidade de uma festa é para divertimento. Mas o que observamos nas festas instituídas no Pentateuco é:
"As festas do Senhor do Antigo Testamento eram reuniões santas de todos os varões de Israel. [...] As Festas não eram festas para diversão. Eram ocasiões sérias e importantes, nas quais Israel honrava ao Senhor por seu relacionamento com eles." (Mahoney, 1996, p.3)
As festas originalmente estabelecidas no Pentateuco para que o povo de Deus as celebrasse são: Páscoa (Pessach), Pães Asmos, Primícias, Pentecoste (Shavuote), Trombetas (Rosh Hashaná), Dia da Expiação (Yom Kippur) e Tabernáculos (Sucote) (ELLISEN, 2010, p.52). Além dessas festas instituídas no Pentateuco, temos outras celebrações importantes que se referem a momentos históricos relevantes à nação de Israel e, por isso, também eram comemorados, tais como a festa do Purim e Dedicação. Todavia, como expressões do Pacto, apenas as sete festas estabelecidas no Pentateuco são relevantes para este estudo.
Tomando por base o calendário hebraico apresentado por ELLISEN (2010, p.52), veremos em ordem cronológica as festas estabelecidas no Pentateuco com suas finalidades.

Páscoa, Pães Asmos e Primícias

Apesar de essas festas possuírem seus significados particulares, elas eram celebradas em conjunto durante uma semana, ocasião na qual, todos deveriam ir para Jerusalém a fim de celebrar estas festas como nação. No livro de Êxodo 12.14-28 vemos o Senhor instruindo a Moisés para que este, por sua vez, instruísse o povo quanto aos rituais dessas festas, especialmente a páscoa.
A páscoa é um memorial do livramento do Senhor, “[...] livramento da servidão e morte no Egito e o fato de o Senhor tê-los adquirido como seus ‘primogênitos’” (ELLISEN, 2010, p.54). No Êxodo, Deus libertou a nação de Israel do julgo da escravidão Egípcia e também os livrou da morte dos primogênitos e assim foi instituída a páscoa, como um memorial, mas também uma tipificação daquilo que Cristo faria na cruz, libertando-nos da escravidão do pecado e salvando-nos da morte eterna. Na celebração da Páscoa o pacto é claramente expresso, pois evidencia a misericórdia de Deus libertando o seu povo, tipificando o Messias, que já veio cumprindo todos os rituais Pascoais, dando-nos salvação.
Enquanto “A Páscoa retrata Jesus resolvendo o problema da penalidade do nosso pecado. Os Pães Asmos retratam Jesus resolvendo o problema da prática do pecado.” (MAHONEY            , 1996, p.7, grifo do autor). A Festa dos Pães Asmos relembra a pressa com que os Israelitas saíram do Egito, não dando tempo para que a massa dos pães fermentasse. Mas ela representa o cuidado que devemos ter para com as nossas vidas a fim de mantê-la pura, limpa de qualquer pecado, pois servimos a um Deus santo, que é infinito em misericórdia, mas não tolera o pecado.
Se a Páscoa nos fala sobre a morte vicária de Cristo, as Primícias apontam para o Cristo ressurreto, ou seja, as primícias daqueles que ressuscitarão em glória. Segundo ELLISEN (2010, p.54) “As primícias tipificavam a ressurreição de Cristo como as primícias da ressurreição dos crentes (1Co 15.20,23)”. Mas historicamente, a Festa das Primícias refere-se a entrega dos primeiros frutos da colheita, nas palavras de MAHONEY (1996, p.10) o “trigo precoce constituía as primícias”, ou seja, aquele feixes que amadureciam antes do restante da colheita eram recolhidos e apresentados com oferta ao Senhor.

Pentecoste

De acordo com Mahoney, a Festa de Pentecoste, também chamada de Festa da colheita, ou semanas, acontecia 50 dias após o cumprimento da semana da Páscoa, mais exatamente, a partir do dia em eram apresentados os primeiros frutos. Concluída a colheita, celebrava-se o Pentecostes para “Agradecer a colheita da cevada, dedicar a próxima colheita do trigo e lembrar o livramento da escravidão do Egito.” (ELLISEN, 2010, p.54). Para Coleman, o fato da nação de Israel ser uma sociedade muito arraigada a agricultura faz da festa da colheita uma grande festa, a qual também atraia pessoas de toda parte para as imediações de Jerusalém, uma vez que o Pentecostes era uma das três grandes festas que os Israelitas deveriam comparecer diante do Senhor no templo.
Unger faz alguns apontamentos interessantes a respeito de alguns elementos dessa festa:
A nova oferta de manjares prenuncia a igreja. Os dois pães movidos (pães, não um molho de grãos soltos) ‘levedados’ antecipam aquele aspecto pelo qual os judeus (At 2) e os gentios (At 10) são unidos numa genuína unidade espiritual (1Co 12.13) pelo advento do Espírito no Pentecoste (At 1.1-4). (UNGER, 2006, p.100)
Essas informações muito nos esclarecem a cerca do aspecto profético dessa festividade. Celebrar o Pentecostes era sinônimo de gratidão a Deus pela colheita, pelo livramento da escravidão e a espera pelo dia em que judeus e gentios seriam arrebanhados num único aprisco, cujo pastor é Cristo.

Festa das Trombetas, Dia da Expiação e Tabernáculos

Essas três festas aconteciam no mesmo mês, aproximadamente outubro, que é o mês de tishri. De acordo com Ellisen, esse período festivo tinha seu início com a Festa das Trombetas, a qual era o marco inicial do ano civil e, também, uma convocação para que o povo de Israel comparecesse diante do Tabernáculo do Senhor, pois os dias que viriam pela frente seriam dias santos. Ainda segundo Ellisen, nesse dia a Trombeta (shofarin) era tocada com mais intensidade do que o normal. Diferente das comemorações até então citadas, as Trombetas não aponta para o passado, mas sim para o futuro. Pois ela aponta para o dia em que Deus convocará a todos para comparecerem diante dele. Ou seja, um dia o Senhor consumará o seu pacto.
O que se segue às Trombetas é o dia da Expiação. “Essa data tem um significado muito especial não só para os judeus como também para o cristianismo. [...] Era uma ocasião de reflexão, de arrependimento [...]” (COLEMAN, 1991, p.270). O Dia da Expiação era o único que o sumo sacerdote poderia entrar no Santo dos Santos. Ele se apresentaria diante do Senhor com o sangue de um bode, com a finalidade de obter perdão do Senhor para si mesmo e para todo o povo. Os rituais do Dia da Expiação “Tipifica Cristo, que expiou todos os nossos pecados, pagando seu preço e levando-os sobre si.” (ELLISEN, 2010, p.55). A Expiação deixa claro para o homem a sua inaptidão para cumprir a lei, ou seja, os “termos do pacto”. Por isso faz se necessário um redentor, alguém que nos liberte da condenação que recairia sobre nós.
“Após experimentar profundos sentimentos de remorso e tristeza, os participantes se entregavam às alegrias da Festa dos Tabernáculos.” (COLEMAN, 1991, p.271). De acordo com este mesmo autor, a comemoração do Dia de Ação de Graças se assemelha A Festa dos Tabernáculos. Durante os dias dessa festividade, o povo de Deus deixava o conforto de suas casas para habitarem em barracas feitas de folhas, lembrando se dos dias que o Senhor conduziu seu povo pelo deserto. O Senhor manteve-se fiel ao pacto, mesmo quando a nação de Israel mostrava-se como um povo de dura cerviz (Esse termo aparece sete vezes no Pentateuco).

Conclusão sobre as Festas como expressões do Pacto

Não foi sem propósito que o Senhor estabeleceu suas Festas. Ele tinha um propósito bem claro ao estabelecê-las, e este era fixar na mente e no coração do seu povo os seus grandiosos feitos e também apontar para o que estava por vir. Mostrar sua misericórdia e graça evidenciando o Pacto do Senhor com seu povo, sua manutenção e consumação.

BIBLIOGRAFIA

COLEMAN, William L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Tradução de Myrian Talitha Lins. Venda Nova: Editora Betânia. 1991. 360p.

ELLISEN, Stanley. Conheça Melhor o Antigo Testamento: Um guia com esboços e gráficos explicativos dos primeiros 39 livros da Bíblia. Tradução de Emma Lima. 2 ed. São Paulo: Editora Vida. 2010. 423p.

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. 3 ed. Editora Positivo. Versão Eletrônica 5.0.

HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley: Nova Versão Internacional. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 2001. 895p.

MAHONEY, Ralph. As Sete Festas do Senhor. Atos, Venda Nova, n.6, vol.11, 23p. Nov./Dez. 1996.


UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. Tradução de Eduardo P. e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 2006. 743p.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Atos, O Manual de Missões da Igreja - Atos 1.1-2,8

“Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas. [...]mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:1-2,8 RA)

Um dos requisitos básicos para ser um Cristão Reformado, é ter a Bíblia como única regra de fé e prática. Em outras palavras, isso significa que a Bíblia é nosso Manual de Instruções, por isso, precisa ser seguida à risca. Pois assim como a garantia de qualquer produto está condicionada ao seu uso conforme prescrito no manual, o sucesso da nossa Vida Cristã também está ligado ao seguir as orientações das Sagradas Escrituras (2Tm 3.16-17). “O vigor de nossa vida espiritual está na proporção exata do lugar que a Bíblia ocupa em nossa vida e em nossos pensamentos” (Geoge Muller).
Partindo do princípio que a Bíblia é o direcionador das nossas vidas e da Igreja, precisamos abraçar com toda força o que ela nos ensina sobre evangelização e missões. Pois já faz algum tempo que não temos cumprido plenamente suas orientações a esse respeito. Nesse quesito, o Livro dos Atos dos Apóstolos é um guia formidável. Pois nele estão registradas as ações evangelísticas da Igreja Apostólica, as quais foram registradas por Lucas, com o propósito de instruir Teófilo, um cristão que ocupava um posto de destaque no governo romano. Pensando que a Igreja Apostólica foi a que mais se aproximou da “Igreja Ideal”, creio que temos muito o que aprender com estes irmãos do passado.
Basicamente, o livro de Atos segue o roteiro apresentado em um dos seus primeiros versículos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Atos 1:8). Assim, ele narra o progresso do evangelho, a partir de Jerusalém, onde teve início, até Roma, a capital do império. Atos 1-7: O evangelho se propaga por toda Jerusalém e Judéia; Atos 8-12: O evangelho se propaga por Samaria e regiões vizinhas; Atos 13-28: O evangelho se propaga por terras distantes. Ou seja, missões locais, missões regionais e missões internacionais. Para entender melhor as seções e a forma como o evangelho progrediu, é só se atentar para alguns versículos chave: At. 6.7, At. 9.31, At. 12.24, At. 16.5; At. 19.20; At. 28.31. Depois de ler esses versículos, fica claro que Lucas desejava mostrar aos seus leitores (especialmente Teófilo) como o evangelho saiu de Jerusalém e chegou até Roma.
Tendo entendido o propósito do autor e a estrutura que seguiu, vejamos algumas diretrizes preciosas para fazermos missões hoje mesmo, aonde quer que estivermos e do jeito certo: 1– A obra missionária é produzida, motivada, dirigida e capacitada por Deus, através do Espírito Santo: Lucas 24.49, At 1.8, 8.29, 10.19, 11.12, 13.2-4, 15.28, 16.6, 20.23. O poder para as missões vem do ALTO; 2– A responsabilidade missionária é de cada crente, pois todos somos testemunhas de Jesus Cristo. Testemunhar, nada mais é do que falar aos outros o que Jesus tem feito em sua vida: At.1.8, 4.20, 8.4, 28.31, (Atos 26.1-23 - Paulo pregando o evangelho e testemunhando de suas experiências); 3– A visão missionária precisa ser progressivamente ampliada, pois deve seguir a visão de Jesus (Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido. Lucas 19:10). At. 1.8, 9.31, 11.18, 23.11, 28.28; 4– A pregação da Palavra é o meio escolhido e determinado por Deus para produzir a fé no coração do incrédulo. “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.” (Romanos 10:17): At.2.37, 6.4, 4.31, 8.35, 10.42; 5– A Igreja local deve coordenar o trabalho missionário recrutando, treinando, enviando, sustentando e recebendo relatórios dos missionários: At. 14.27, 15.3-4, 21.17-19; 6– A plantação e organização de igrejas fez parte da expansão missionária. Elas eram organizadas nas casas dos crentes, onde a Palavra era ministrada e os cristãos discipulados: At. 11.19-26, 14.23, 21.8, 1Coríntios 16.19; 7– De todos os trabalhos que fomos encarregados, a obra missionária é prioritária. Dessa forma, o nosso melhor deve ser direcionado a ela: At. 23.2 (Os melhores obreiros), At.20.35 (Os maiores recursos), At. 20.24 (O melhor de nós); 8– Fazer tudo isso não é fácil, por isso, é necessários estarmos em constante oração. Pois é ela que manteve a Igreja Primitiva em comunhão com Deus e uns com os outros: At. 1.14, 2.42, 4.31, 6.4, 9.11, 10.4, 13.2-3, 16.25, 20.36.
Como Igreja do Senhor Jesus, não podemos fazer vistas grossas à urgente necessidade de anunciarmos o Evangelho. Toda a instrução de que necessitamos, está bem diante dos nossos olhos, bem como toda sabedoria e direção do Espírito, está ao alcance das nossas orações.
Comece hoje mesmo a anunciar para as pessoas o que Deus tem feito por você! Essa missão é sua!
Adaptado de Igreja Local e Missões - SOCEP, Lição 01 - Ev. Vanderson Scherre Gomes

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Repensando o Natal (Parte 2)


Dando sequência ao assunto que discutimos semana passada (AQUI), hoje, continuaremos a propor algumas idéias para nos fazer repensar aquilo que se tem convencionado como práticas natalinas. O nascimento de Cristo é uma belíssima data, pois é nesse dia que lembramos que o Verbo Eterno se fez carne, esvaziando-se de si mesmo e habitou entre nós. Deus se fez homem, colocando seu coração na nossa miséria, com o fim de nos tirar dela.
Tendo em vista tamanho ato de amor, graça e misericórdia, não podemos desprezar a importância do natal, ou mesmo enxertá-lo de significados fúteis, mentirosos e vazios. Assim, continuemos a aprender um pouco mais sobre essa célebre data.
Presépio Como dissemos, o natal nos mostra a ação do Deus Eterno assumindo a forma de servo. Nesse sentido, o presépio talvez seja um dos símbolos natalinos que melhor representa isso, mas ao mesmo tempo, seja a representação natalina usada da forma mais enganada. Pois ao invés de representar o que a Bíblia diz sobre o nascimento de Jesus, representam aquilo que as crendices populares falam. De acordo com Lucas 2.1-7, o Rei dos reis nasceu numa estrebaria. Um local simples, rude e impróprio para o nascimento de qualquer criança. Mesmo assim, José, Maria e o recém nascido Jesus tiveram que se abrigar naquele lugar por causa da superlotação da cidade naqueles dias em que o Império Romano promovia o recenseamento. A estrebaria era um local usado para abrigo e tratamento de animais, que poderia ser o porão de uma casa, ou um anexo à mesma, pois naqueles dias era comum essa prática. Mas o que normalmente é usado para representar a estrebaria é uma gruta ou uma choça num ermo aos arredores de Belém. Podemos deduzir, com mais possibilidade de acerto, ser a estrebaria num porão, do que numa gruta por causa do anjo que não forneceu aos pastores muitos dados acerca do local do nascimento, mas disse que era "na cidade de Davi", que é Belém, logo, deveria ser um local mais conhecido e não tão isolado. Esse lugar impróprio para moradia foi adaptado para receber aquela família e para acomodar o menino, fizeram da manjedoura um berço. A qual era um cocho de pedras fixo e firme. Uma obra de alvenaria feita no lugar. Tão firme que poderia ser usada para amarrar animais (Lc. 13.15). Nela se dava de comer e beber aos animais. Quando dizemos adaptada, quer dizer que o local foi minimamente preparado, não pensem que havia animais por todo lado, inclusive um comendo forragem no cocho transformado em berço. Certamente José tirou os animais do lugar e o que envolvia Jesus na manjedoura eram faixas e não capim (Lc. 2.12).
Os Magos – Outro erro comum associado ao presépio é visita de “uns magos do oriente” que aparecem em Mateus 2.1-12. Essa comitiva viera de terras distantes para ver o “rei dos judeus”. Esses homens do oriente eram pessoas de destaque, pois para serem qualificados como “magos”, poderiam ser astrônomos, astrólogos, matemáticos, químicos, ou religiosos de altas patentes acadêmicas, assim poderiam ser conselheiros reais semelhantes a Daniel. Porém a Bíblia não nos informa quantos eram, o que faziam e nem os seus nomes. O que temos a respeito desses homens são muitas lendas e crendices populares. Quanto ao número, várias foram as estimativas, contudo o mais difundido são três: Aliatar, Anason e Quissade (nomes dados no século XIII), ou Gaspar, Belchior e Baltazar (nomes dados no século XII). O que fortalece a teoria de que eram três magos são os três diferentes presentes (ouro, incenso e mirra). Mas tudo isso não passa de especulação e lenda, pois a Bíblia não nos dá esses detalhes. Há ainda aqueles que atribuem significados aos presentes dos magosAlguns atribuem significados aos presentes: Ouro: Aponta para realeza de Cristo; Incenso: Aponta para o ministério Sacerdotal de Cristo; Mirra: Aponta para sua morte. Mas o papel mais importante dos presentes dados pelos magos foi financiar a viagem de Jesus e sua família ao Egito. Visto que era uma família pobre.
Ainda tratando sobre os magos, um equívoco comumente cometido é dizer que os magos visitaram Jesus e sua família na estrebaria na noite do seu nascimento. Vemos isso em praticamente todos os presépios, teatros e filmes natalinos. Mas a narrativa Bíblica aponta para uma direção diferente, pois em Mateus 2.11 diz que os magos entraram na “CASA” e viram o “MENINO”. Ou seja, os magos visitam o menino Jesus (no grego “paidion” = menino pequeno) e sua família numa casa (no grego “oikia” = moradia). Diferente dos humildes pastores, aos quais o Anjo apareceu na noite do nascimento. Estes acharam uma criança (no grego “brephos” = recém nascido) envolta em faixas e deitada numa manjedoura. Além da diferenciação que podemos obter do grego, podemos deduzir que Jesus não era mais um recém nascido pelo fato de Herodes ordenar a morte das crianças de dois anos para baixo, conforme Mateus 2.16. Portanto, os pastores visitaram Jesus na manjedoura na noite do seu nascimento. Já os magos, encontraram Jesus numa casa quase dois anos depois do seu nascimento. Mas francamente, montar um presépio com magos ricos, bem vestidos e cheios de presentes, ao invés de pastores pobres e maltrapilhos é muito mais chique.
Tendo em vista tantos elementos lendários que cercam o nascimento de Jesus, para se evitar erros, convém que aceitemos a narrativa Bíblica do nascimento de Jesus dentro dos limites da sua realidade, sem nenhum acréscimo ou suposição fantasiosa que ultrapasse a verdade narrada nas Escrituras. Não celebre o Natal conforme as crendices populares, mas de acordo com a Palavra de Deus.

Obras consultadas e Citadas:

FONSECA, Salvador Moisés da. O Natal e sua celebração: história e simbologia. Patrocínio: CEIBEL. 2001. 3ª Ed. 20p.

TASKER, R.V.G. Introdução e Comentário do Evangelho de Mateus. Tradução de Odayr Olivetti. São Paulo: Vida Nova. 2007. 229p.